2 – Não devemos julgar!
A primeira passagem Bíblica que devemos analisar, talvez seja a mais usada para afirmar que não devemos julgar aqueles que ensinam conceitos contrários as Escrituras. Trata-se de Mateus 7:1 “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Pegando este versículo isolado, de fato, a interpretação será absoluta para “não julgar”. Porém, jamais devemos interpretar textos bíblicos de maneira isolada, retirando as passagens de seus respectivos contextos. E o contexto direto da passagem nos diz claramente que o Salvador não proibiu o julgamento em si, mas um tipo de julgamento específico. Vejamos: “Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.” (Mt 7:2-5)
No versículo 1, o Salvador disse aos judeus que eles não deveriam julgar. Já do versículo 2 em diante, Ele dá a razão pela qual eles não poderiam julgar: o julgamento hipócrita! Os judeus estavam condenando os pecados dos irmãos, porém eles próprios estavam praticando as mesmas coisas (e até piores). Imagine como exemplo, uma mulher que abortou uma criança criticando um bandido que matou alguém em um assalto! Por fim, no versículo 5, o Salvador diz que devemos primeiramente corrigir os nossos próprios pecados, para somente depois ajudar o nosso irmão, corrigindo-o de seu erro.
Outra passagem bastante utilizada pelos líderes manipuladores é Romanos 14:10, onde diz: “Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal“. Da mesma forma que o Salvador, Shaul (Paulo) não está condenando o julgamento em si, mas sim um julgamento específico. Segundo o contexto, alguns irmãos recém convertidos eram legalistas, com isto os mais experientes estavam ficando impacientes. Shaul faz uma exortação para que os mesmos sejam mais tolerantes e não julguem os débeis (fracos) na fé, acolhendo-os com aceitação, pois com o tempo o amadurecimento viria naturalmente. Vale lembrar que, o que estava em questão não eram assuntos que comprometiam a ortodoxia, mas sim pontos secundários da fé. Se fosse algo que comprometesse a fé cristã, Shaul com certeza teria outra atitude (Gl 1:6-7, 3:1-5, Fp 3:2, 18-19).
A Bíblia claramente instrui os irmãos a julgar todas as coisas. Prova disto está em João 7:24: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”. No contexto da passagem, o Salvador está confrontando os judeus que questionaram sua doutrina, e tinham-no acusado de ter um diabo (vs 20) e de quebrar o dia do Sábado curando um homem (Jo 5:1-16). A questão colocada por Jesus é o ato de julgar de maneira exterior e superficial, ou seja, sem conhecer realmente os fatos, tornando o julgamento injusto. O ato de julgar “pela reta justiça” tem como premissa a lei do Criador como padrão pelo qual discernimos as coisas, pois a Sagrada Escritura é a nossa única regra de fé e prática.
1ª Coríntios 5 também é uma base bíblica importante a respeito do nosso dever de julgar. No versículo 3 Shaul declara, sob a inspiração do Espírito, que ele tinha julgado um membro da Oholyao (corpo do Salvador) em Corinto que estava vivendo no pecado de fornicação. Seu julgamento a tal pessoa foi “seja entregue ao inimigo para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Salvador”. Já nos versículos 9 a 13, Shaul lembra aos santos do seu dever de julgar as pessoas que fazem parte da Oholyao, se elas estão ou não obedecendo à lei do Criador. Aqueles que alegam ser do Salvador e são membros do corpo, mas que são julgados como sendo desobedientes a qualquer mandamento da lei do Criador (vs 9-10).
Outras passagens bíblicas também indicam que é de nossa responsabilidade julgar. O Salvador pergunta às pessoas em Lucas 12:57: “E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?”. Shaul orou para que o amor dos crentes em Filipos “aumentasse mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção” (Fl 1:9). Ele disse aos Corintos: “Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo” (1 Co 1:15).
Os irmãos são solicitados a examinar tudo e reter o bem (1 Ts 5:21). Eles também são obrigados a provar se os espíritos são do Criador: “Irmãos, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem do Criador, porque muitos falsos profetas tem saído pelo mundo afora” (1 Jo 4:1). Mesmo nas reuniões eles devem “julgar” o que ouvem: “Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem” (1 Co 14:29). Os Crentes de Corinto receberam ordens para julgar imediatamente a imoralidade existente entre os seus membros (1 Co 5:1-8). Mesmo o estrangeiro de passagem não deve ser hospedado se for verificado que não se trata de uma pessoa alicerçada na verdadeira fé ( 2Jo 10,11). Deve ser considerado como anátema (maldição) àqueles que apresentarem algum tipo diferente de ensino (Gl 1:9).
Portanto, concluímos que biblicamente é dever de todo irmão Julgar, fazendo juízo através de suas faculdades mentais de raciocínio. Se alguém ensinar algo em desacordo com as Escrituras – mesmo partindo do líder de sua igreja, esta pessoa deve ser confrontada com a Bíblia, obviamente com respeito e submissão. Ninguém, absolutamente, é intocável ou incriticável, pois não há respaldo bíblico para afirmar que exista um nível de “unção especial” que anule o raciocínio para o entendimento de qualquer coisa falada, ensinada e praticada. Tudo deve ser conferido na Escritura
Por fim, alerto que este ato de julgar não significa fazer injúrias ou calúnias, com comportamentos de sarcasmo e desprezo sobre a pessoa que está no erro, mas sim deve ser feito com linguagem sadia e irrepreensível, no âmbito teológico e moral (Tito 2:7-8, 1Pe 3:15-16). Se alguém está desviando-se da Verdade e pregando heresias, a nossa obrigação é alertar, repreender, exortar e conduzir o pecador ao entendimento bíblico (2Tm 4:2-4). Caso a disciplina seja indispensável, a mesma deve ser aplicada com seriedade, amor e tristeza, sempre objetivando o arrependimento, e não a condenação eterna do pecador, algo que cabe exclusivamente ao Criador.
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